Poetas Populares – António Branco
Segundo a opinião insuspeita do Dr. António Cardoso Mourato trata-se de …”um dos poetas mais fecundos da nossa região”…e …”o mais fecundo poeta montalvanense”…(1) , cuja obra completa seria importante reunir, se acaso alguém dela dispuser, eventualmente os seus familiares.
Enquanto tal não for possível resta-nos a publicação de alguns dos seus poemas e quadras, algumas das quais deram origem a canções populares de Montalvão, por vezes, ainda hoje em dia cantadas.
Do que se encontra publicado no livro abaixo referenciado, respigamos a seguinte, por, no nosso ponto de vista, manter inteira atualidade:
Mote
Trata bem este velhinho,
Quem tanto por ti passou.
É teu pai, teu amiguinho.
Bem sabes quem te criou.
Glosas
Quanto ele te desejava
De ver-te bem amparado.
Para hoje se ver desprezado,
De um filho que tanto amava.
À noite a casa chegava,
Do trabalho, raladinho,
Dava beijos ao filhinho.
Sendo ele muito amigo.
E para que Deus te não dê o castigo,
Trata bem este velhinho.
Todo o pai que filhos tem,
Sempre neles anda a pensar,
Para ver se os pode deixar
Neste mundo a viver bem.
Repara, considera bem,
Como teu pai te estimou.
Enquanto te não criou,
Tratou-te com amor santo…
Mas tu, que não és constante,
Por quem tanto por ti passou.
Algum dia podes ter,
Quem te faça tanto ou mais.
A mesma paga que dás,
Ainda a podes receber.
Depois é que hás-de querer
Ter dos teus algum carinho.
Se eles vão pelo caminho,
Que tu em tempo tiveste,
Aqui pagas o que fizeste,
A teu pai, teu amiguinho.
Trata bem do coração,
Que é um dever que nós temos,
Pagar bem a quem devemos,
É esta a nossa criação.
É uma bonita acção
Tratar bem quem nos criou,
A quem tanta vez deixou
De comer, para te dar…
Nunca o deves desprezar.
Bem sabes quem te criou.
Luís Gonçalves Gomes
03 fevereiro 2016
(1) MOURATO, António Cardoso, "Montalvão, Elementos para uma Monografia desta Freguesia do Concelho de Nisa"; pgs. 137 e 138.