ACOMPANHAR SOPAS DE PEIXE SEM VINHO, É COMO O BENFICA NÃO IR À TAÇA DOS CAMPEÕES EUROPEUS!
Pois é, este nosso famoso menu entra em inúmeras estórias da nossa gente e porque queremos que os mais jovens saboreiem os gostos de seus antepassados, relegando o balofento “fast food” para segundo plano, aqui trago mais uma passagem de um testemunho que, sendo verdadeiro, mais prazer tenho em dar a conhecer. Para que o casamento seja perfeito o vinho não pode faltar, porque se não é uma tristeza pegada, igual à dos sete milhões (!) de benfiquistas que, uma vez mais, se vêem privados de ver o seu clube nas altas instâncias europeias.
Em mais uma jornada de convívio em salutar ambiente selvagem, onde a água apazigua o vasto esteval, lá vai mais um rancho de patrícios, verdadeiros apreciadores da nossa sopa de peixe, comida em “couchos” de cortiça e colheres de pau feitas…
Aqui, sou dos principais protagonistas, acompanhando meu pai, seu afilhado “Banhenhas”, o João Dias e seu cunhado, da Póvoa – ai as mélrras–e quantos mais, até ao Moinho da Toureira e como para baixo todos os santos ajudam, depressa ouvimos a água a transbordar o açude porque não era dia de fazer farinha.
A coisa havia sido tratada atempadamente com os pescadores de momento a irem dormir ao rio meter os tresmalhos dentro de água para que o peixe apanhado estivesse vivinho da costa no momento certo. Com as bolsas da merenda no chão, bem perto de nós, houve logo quem fosse à lenha, arrancando xaras secas pela raiz (aquele cheiro a “pequem” que minha mãe tão bem fazia, e vendia) que depressa crepitava, sendo a azáfama grande porque a sopatana se aproximava.
O que andava à lenha lá viu que já merecia uma pinga e vai de perguntar“onde está o vergas?” Toda a gente queda e muda enquanto eu falava para comigo “pronto toca-me a mim dançar com a Mariena Adriena”, o melhor é dar corda aos ténis mesmo de calças e tudo.
Arranco barreira acima e pouco depois estava no Ti Tomás para trazer a alegria do Povo, cujo transporte se fazia com dificuldade, e logo lobriguei o outro lado donde vêm as medianas (que pão horrível, óstia ) e já sentindo o cheiro do caldo sou visto pelos ogados companheiros que não viram eu esconder o garrafão. “p’ra cá com o tintol, ó Zé” . – Eh pá caí e o vinho já era. “O raisparta a nossa sorte!” – Se calhar vou ter de voltar à Vila, atirei eu. Dois passos atrás e perante a descida do céu ao purgatório resolvi aliviar tanto sofrimento e, levantando o troféu bem alto, gritei: “Está aqui punhêta!”, a verdade é que levei mais palmas de que se tivesse batido o recorde nacional dos 1500 metros em pleno Vale Hermoso, em Madrid donde recebia quase semanalmente convites para ali competir, tanto ao ar livre como em pista coberta, e onde bati o recorde nacional dos 1000 metros indoor.
José Morujo Júlio
26.09.2020