POR MONTES SAGRADOS NUNCA DANTES PERCORRIDOS
Morreria de bom grado pelos meus filhos e netos e principalmente pela esposa que não me canso de “aturar”. Logo a seguir, toca-me sobremaneira a minha terra com o casario de branco vestido e não obstante o semi-abandono dos campos, abdicando de dourados trigais que deram lugar a bravios estevais, mesmo assim, basta-me o aroma agridoce das charas para não me cair no esquecimento.
A nossa terra está salpicada de pequenas ermidas que os templários quiseram perpetuar chamando a si os deuses para abraçar as terras que lhes dariam o pão.
Há oito dias, revisitei o local onde outrora teria sido erguida a capela dedicada a Santa Maria Madalena, que os antigos montalvanenses alcunharam de “Badalena”, junto à horta do meu avô Manuel Morujo. Vi blocos de granito, outrora naturalmente da capelinha e agora a sustentar o portal de um antigo curral, e um pedaço de telhão – irá para o nosso prometido museu –coisa pouca, comparada com o que poderia ser um testemunho imorredoiro.
Embalado pelo achado vou dali com a minha mulher à procura de outros tesouros. Com a velha Toyota lá fomos nós caminho fora em direcção ao Pero Galego; já com sobe e desce pronunciados vejo nos montes fronteiros outros caminhos. Para chegar até lá, fui dar ao ribeiro sem me aperceber de que o caminho findava ali e que a carrinha que não sabe quantos são 4X4 ficou especada perante o curso de água sem pinga.
A D. Fernanda bem me dizia: - Olha que o caminho não continua”, mas como acreditar nas mulheres “É crer no diabo”, como diz a canção, não liguei e o resultado aí está: avancei mato fora, qual “bulldózer”, até que a japonesa assenta o cavername no chão como que a dizer:”daqui não saio daqui ninguém me tira”, enquanto alguém me chingava o juízo, com razão está bom de ver.
Felizmente com pouco carrego, apenas alguma água, lá bem no fundo do barranco, olhámos, com receio de arranjar algum torcicolo, para a empinada montanha, e só de olhar já dava ânsias; e ala que se faz tarde, arrancámos em direcção à estrada da Salavessa, só que o raio do cerro não se estendia antes se empinava, tudo isto pela esturreira do sol. A muito custo chegámos à estrada, junto à Charneca do Senhor José Godinho, e continuámos enquanto carros e carrinhas de várias marcas passavam naturalmente comentando: “valente casal sem medo de fazer caminhadas a esta hora”! Cansados, doridos, cheios de sede, mas com vergonha de pedir boleia, lá fomos orgulhosamente cientes do desforço despendido. Felizmente que o Santo André se lembrou de colocar um chafariz no nosso caminho e ali nos dissecámos fazendo jus a qualquer bejeca gelada.
Horas depois estava a contactar o Tiago, filho do Alexandre e afilhado/sobrinho do Manel do Monte Queimado e este jovem pega num tractorzorro, com potência para arrancar a Torre de Piza pela raiz, e vai até ao fundo do cerrado pegando na caranguejola em “ardemala” até lá acima enquanto eu sentado e melhor almoçado tirava fotos para mais tarde me lembrar da asneira que fiz.
Na manhã seguinte toca a visitar mais vestígios sagrados: Santo António, S. Silvestre, Santa Margarida, ainda com nichos e altar e com uma azinheira ao meio nascida – o que para os lados de Fátima seria “milagre”; e na foz da Ribeira de S. João, o Santo Isidro, santuários que dizem os antigos eram visitados por um velho padre que de burro por ali pregava a palavra Sagrada.