Castelo de Montalvão
..."Há poucos vestígios das fortificações, que cingião antigamente a Villa, das quaes se dis, que forão arrazadas na campanha de 1704 porem ainda no extremo meriodional da povoação a Cidadella ou Castello, que um reduto (de) baze circular, ou antes elliptico, que terá oitenta passos de cumprido e quarenta e cinco ou cincoenta de largo. elle não he terraplanado para que a Artilharia possa laborar sobre as suas débeis muralhas, as quaes tem bastante altura da parte da campanha, e são inteiramente descubertas até ao seu pé e sem fossos, Da parte da Villa, as muralhas são baixas, e quazi incostada a ellas, no seu lado exterior, fica a Igreja Matriz, a qual he ainda coberta por hum pequeno muro que se une pelas extremidades com a do reducto. Neste se achão desmontados e comidos pela ferrugem uns canhões de ferro de muito antiga construção. Esta obra ainda quando fosse reedififiada e guarnecida não poderia só por si, fazer huma grande defensa, pois não imbaraçando o acesso da Villa pelos outros lados, he mui debil e acanhada para resistir a hum ataque qualquer formado da parte da mesma Villa.
Apezar da ruina desta pequena forificação que atualmente serve para hum pomar, se conserva ainda o costume de enviar para ali hum Governador militar permanente, e o actual tem a patente de Sargento-mor."...(sic) (1)
Classificação
Arquitetura militar, medieval. Castelo de planimetria poligonal, ovalada, com duas torres e cisterna (IPA.00027855; Número IPA Antigo: PT041212050043),estando classificado como Monumento de Interesse Público – MIP do grau 5 (v. abaixo referências de diplomas legais aplicáveis)
Por conseguinte, a sua área de implantação está classificada como “Zona Especial de Proteção” (abreviadamente ZEP ou ZP), sendo uma área ou zona "non aedificandi"
Breve descrição
Montalvão, devido à sua particular localização geográfica, desempenhou um papel estrategicamente muito importante nos primórdios da monarquia portuguesa. Efetivamente, em plena Reconquista Cristã da península Ibérica (iniciada em 718 nas Astúrias por Pelágio e sendo dada como terminada em toda a Península Ibérica em 1492), o castelo integrava a chamada Linha do Tejo, visando a proteção da linha de fronteira com Castela. Apesar dessa importância estratégica não se conhecem informações acerca da evolução histórico-arquitetónica da sua estrutura.
A necessidade de proteção deste sector da fronteira, aliada à pouco efetiva densidade populacional, determinou que a localidade se instituísse como sede de um território vital para a sobrevivência da ordem cristã na região. Por isso, não admira que, depois de primeiramente a Comenda de Montalvão ter sido atribuída à Ordem Templária, após a extinção desta, tenha sido Comenda da Ordem de Cristo, instituição que terá estado na origem do castelo, tal como o conhecemos ainda, cujas muralhas, embora arruinadas, se encontram, contudo, bem definidas. A sua construção tem sido apontada no reinado de D. Dinis (1279-1325), mas o monumento carece ainda de um estudo arqueológico mais vasto que permita extrair conclusões acerca das fases de ocupação por que passou até aí. O certo é que o castelo de Montalvão está expressamente mencionado em diversas e muito empolgantes obras referentes à Ordem Templária, sendo um de muitos que pertenceu a esta poderosa Ordem religioso-militar (a primeira ordem militar da História), com enorme prestígio na cristandade. O mapeamento dos inúmeros castelos pertencentes aos Templários evidencia justamente o de Montalvão, fazendo inclusive parte dos "Itinerários ou Rotas Templárias", conforme se pode ver através do item alusivo neste portal.
A fortaleza baixo-medieval, de formato semi-oval, não terá sido uma obra de grande envergadura, na medida em que, nos inícios do século XVI, Duarte d'Armas, desenhou-a (Livro das Fortalezas-1509, páginas 50;51 e que constitui o registo do levantamento efetuado por aquele escudeiro de D. Manuel I (1495-1521)), como tendo apenas uma muralha, sem qualquer torre anexa, fazendo-se o acesso ao espaço intra - muros por porta única. Essa entrada ou porta foi reconstruída um século depois, por se apresentar arruinada, adquirindo então a forma clássica de lintel reto entre pilastras suportando uma arquitrave, que ainda hoje se mantém, contrastando com o aparelho miúdo e irregular com que foi executada a cerca que define o castelo.
No interior do castelo encontra-se uma cisterna, e as muralhas, tal como os respetivos e peculiares alicerces, estão construídos em xisto, cuja predominância na região a isso forçosamente conduziu.
As muralhas originais e as que restam estão suportadas por uma plataforma sobrelevada, formada por fiadas de aparelho ou pedras de xisto sobrepostas em espinha, tal como ilustrado nas fotos correspondentes.
No interior do castelo, em plena antiga praça de armas, encontra-se uma arca sepulcral em pedra aparentemente granítica, de formato retangular, com uma das faces lavrada com elementos vegetalistas e a cruz de Cristo ao centro (v. foto)
Luís Gonçalves Gomes
08 janeiro 2016
Anexos a este apontamento:
Documentação fotográfica e gráfica (v. Galeria)
IHRU: DGEMN / DREMS
Livro das Fortalezas de Duarte d’Armas, pgs 50 e 51, referentes ao Castelo de Montalvão
Mapa cadastral
Excerto do mapa militar IGeoE
Levantamento topográfico (cópia obtida na Câmara Municipal de Nisa)
Fotos aéreas (Google Earth)
Fotos atuais – 2015 (LGGomes)
Bibliografia:
(1) VICENTE, António Pedro, "Memórias e Documentos para a História Luso-Francesa-XI", Manuscritos do Arquivo Histórico de Vincennes, Referentes a Portugal II, (1803-1806); Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris-1972.
"Memórias descriptivas e militaires do terreno de huma parte da fronteira da Provincia do Alemtejo, formadas No Anno de 1804 em consequencia do Reconhecimento Militar Feito no anno precedente, segundo as Instrucçoens do Exmº Snr Tenente Gen.al e Inspector Geral das Fronteiras Marquês de La Rosiere, por Joze Maria das Neves Costa- Parte Primeira, Descripção Civil, Militar e Economica da Villa de Montalvão e seu Termo" pgs 54 e seguintes.
Inventário do Património Arquitectónico (DGEMN)
Instituto Português de Arqueologia
Castelo de Montalvão na base de dados do IGESPAR
Castelo de Montalvão no WikiMapia
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=27855
BASTOS MOREIRA, Cor. Eng - Castelo de Montalvão; in Jornal do Exército, Monumentos de Evocação Militar
LOBO, Francisco Sousa - A defesa militar do Alentejo. Monumentos. Lisboa: Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, Dezembro 2008, n.º 28, pp. 22-33;
MURTA, José Dinis - O castelo de Montalvão. Nisa: Câmara Municipal - Delegação Regional da Cultura do Alentejo, 1994;
MOURATO, António Cardoso (coord.) - Montalvão: elementos para uma monografia desta freguesia do concelho de Nisa. Montalvão: 1980;
ROSA, Jorge - Montalvão, Ecos de uma história milenar. Lisboa: Colibri, 2001;
Vária. Monumentos. Lisboa: Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 2004-2005, n.º 21 e 23,
Referências de diplomas legais relativos à classificação do Castelo como MIP
Portaria n.º 643/2012, DR, de 2.ª série, n.º 212, de 2-11-2012 (ver Portaria)
Anúncio n.º 12203/2012, DR, 2.ª série, n.º 107, de 1-06-2012 (ver Anúncio)
Procedimento prorrogado até 31 de Dezembro de 2012 pelo Decreto-Lei n.º 115/2011, DR, 1.ª série, n.º 232, de 5-12-2011 (ver Diploma)
Parecer favorável de 23-11-2011 da SPAA do Conselho Nacional de Cultura
Procedimento prorrogado pelo Despacho n.º 19338/2010, DR, 2.ª série, n.º 252, de 30 de Dezembro (ver Despacho)
Proposta de 24-11-2010 da DRCAlentejo para a classificação como MIP
Despacho de abertura de 20-10-1994 do Presidente do IPPA
Parecer favorável de 9-08-1994 do Conselho Consultivo do IPPAR
Proposta de abertura de 16-05-1994 da DRÉvora
Proposta de classificação de 6-05-1994 da CM de Nisa
Documentos referentes a Zona Especial de Poteção (ZEP) ou ZP
Portaria n.º 643/2012, DR, de 2.ª série, n.º 212, de 2-11-2012 (ver Portaria)
Anúncio n.º 12203/2012, DR, 2.ª série, n.º 107, de 1-06-2012 (ver Anúncio)
Parecer favorável de 23-11-2011 da SPAA do Conselho Nacional de Cultura
Proposta de 24-11-2010 da DRCAlentejo