João Póquito
Infelizmente, não dispomos de muita informação sobre este nosso conterrâneo, a não ser a que lhe é feita no livro “Montalvão, Elementos para uma Monografia desta Freguesia do Concelho de Nisa” pgs. 98 e 99, nomeadamente o poema que dedicou à questão da emigração e que foi premonitório, quanto à desertificação que a mesma acelerou, como já referimos noutro artigo.
Para além do poema que a seguir transcrevemos, desconhecemos se outros mais fez, mas ainda que tenha sido apenas este, a qualidade e acuidade do mesmo, torna o seu autor inteiramente merecedor do nosso reconhecimento como poeta popular:
Mote
Montalvão, triste velhinho
Chora sem consolação,
Ao lembra-se, coitadinho,
Dos tempos que já lá vão.
Glosas
Tens tanto prédio fechado,
De gente que abalou.
Filhinhos que ele criou,
O têm abandonado…
Vai tudo para o mesmo lado,
Toma tudo igual caminho.
Vão-te deixando sózinho,
Já tens ruas sem ninguém.
Já nem mocidade tem,
Montalvão, triste velhinho.
Abala tanta pessoa,
Dali para vários lados.
Deixam os seus lares fechados.
Dizem que vão para Lisboa.
Alguns abalam à toa,
Sem saber para onde vão…
Para ganhar algum tostão,
Lá vão na grande esperança,
Montalvão vai-se p’ra França,
Chora sem consolação.
Abala o velho e o novo…
Tudo te tem desprezado.
Vais estando desabitado,
Vais sendo vila sem povo.
Ao ver-te assim, me comovo,
Porque sou de ti filhinho.
Ver-te assim, tão tristinho,
Lembram-me os tempos de outrora
E Montalvão triste, chora,
Ao lembrar-me coitadinho.
Lembram-me os tempos passados,
Que eu vivia, antigamente…
Eram todo…boa gente
E de costumes engraçados.
Todos estão acabados
Só a pobreza é que não…
Tens lá muita televisão,
Mas não te dão rendimento.
Lembram-me, a todo o momento
Dos tempos que já lá vão.
Luís Gonçalves Gomes
04 fevereiro 2016
(1) MOURATO, António Cardoso, "Montalvão, Elementos para uma Monografia desta Freguesia do Concelho de Nisa";pgs. 137 e 138.