A campanha de 1704 - invasão de Portugal pelos espanhóis
..."Há poucos vestígios das fortificações, que cingião antigamente a Villa, das quaes se dis, que forão arrazadas na campanha de 1704"...(1)
Que campanha foi esta que, pelos vistos, tão arrasadora foi para a então já precária fortificação de Montalvão? É o que procuraremos saber através da seguinte transcrição: (2)
“Ao morrer Carlos II, rei de Espanha (1700), sem descendentes directos, aparecem como pretendentes ao trono, por um lado Luís XIV, rei de França, em nome de seu neto e presumido herdeiro, Filipe, Duque de Anjou, a que o monarca espanhol o legara por testamento, e por outro lado o Imperador da Alemanha, Leopoldo I, que o pretendia para seu o segundo filho, o Arquiduque Carlos da Áustria, mais tarde o Imperador Carlos VI da Alemanha.
Resultou destas pretensões a guerra da sucessão de Espanha, em que se envolveram vários estados.
Ao lado do Imperador colocaram-se a Inglaterra, a Suécia, a Dinamarca e a Holanda, desejosas de verem diminuído o poderio Francês; a Espanha e a Baviera uniram-se à França. Portugal, com D. Pedro II, apoiou ao princípio o Duque de Anjou, aclamado depois Rei de Espanha com nome de Filipe V. Porém, como velho aliado da Inglaterra, rapidamente assumiu o partido do Arquiduque Carlos.
Em virtude dessa atitude, Portugal foi invadido pelas tropas franco-espanholas sob o comando do Marechal de França, Duque de Berwick (James Fitz-James Stuart y Churchill, 1º Duque de Berwick) nos princípios de Maio de 1704, sendo ocupadas sucessivamente Salvaterra do Extremo, Segura, Zebreira, Monsanto, Idanha-a-Nova e Castelo Branco.
Pretendendo avançar sobre Abrantes, mas não conseguindo atravessar as Talhadas, passou o Tejo em Vila Velha do Ródão e foi ocupar Montalvão, Marvão, e Portalegre, com o objectivo de assegurar a marcha pela margem esquerda do Tejo. Faz a junção com outras tropas suas amigas que tinham invadido esta província portuguesa e ainda lá se encontravam.
Então, segundo Carlos Selvagem, de entre os generais portugueses começou a despontar um verdadeiro cabo-de-guerra – o Marquês das Minas, que governava a província da Beira e que reforçado por tropas do Minho e Trás-os-Montes, marcha de Almeida sobre o Tejo, bate e corta o corpo do exército espanhol que ocupava a Beira Baixa e recupera sucessivamente Segura, Idanha, Zebreira, Ladoeiro, Castelo Branco, Ródão, etc. Isto passa-se um ano depois, em 1705.
No Alentejo, o Conde das Galveias invade a fronteira e apodera-se de algumas povoações. Em 1706, reorganizado o nosso exército o inimigo é repelido de tal forma que os nossos soldados, sob o comando do Marquês das Minas, após vitórias sucessivas, avançam com glória até Madrid, onde é aclamado o Arquiduque Carlos com o nome de Carlos III. Estas guerras só terminaram no reinado de D. João V, com o tratado de Utreque em 1715, havendo porém sido assinado em 1712 um armistício entre as duas nações.” (sic) (2)
Luís Gonçalves Gomes
16 fevereiro 2016
(1) VICENTE, António Pedro, "Memórias e Documentos para a História Luso-Francesa-XI", Manuscritos do Arquivo Histórico de Vincennes, Referentes a Portugal II, (1803-1806); Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris-1972.
(2) In http://www.jf-zebreira.pt/site/freguesia/historial