Demografia - “O envelhecimento da população residente e a erosão demográfica na Freguesia de Montalvão – Antevisão para os próximos 20 anos” O concelho de Nisa ou melhor, as freguesias que o compõem - umas mais do que outras -, vêm evidenciando, sobretudo a partir da década de sessenta do século passado, um enorme decréscimo populacional, o que, aliás, é genericamente análogo ao sucedido na faixa interior do país. E quando se fala nesse interior, é necessário ter em conta, por muito exagerado que pareça, que isso corresponde a praticamente metade do território continental, no sentido longitudinal. Associado a tal decréscimo da população residente nesse interior, tão abandonado ao longo de décadas pelos poderes públicos, nomeadamente pelo poder central, está inevitavelmente a decadência geral das localidades afetadas pelo êxodo rural. Uma coisa arrasta a outra. Não havendo pessoas, deixa de haver comércio, apoio médico – hospitais ou centros de saúde – escolas, correios, bancos e tudo o mais que está associado à vida económica, cultural e social das populações. Restam praticamente os lares de idosos e mesmo esses tendem a perder sustentabilidade, à medida que a população envelhecida, apesar da maior longevidade, chega, inexoravelmente, ao fim do seu percurso de vida. Não existe renovação que compense tais perdas definitivas, que é a única absoluta certeza que adquirimos ao nascer. E não há renovação, porque a população em idade ativa e de procriação, não dispondo de condições de vida digna ou até de sobrevivência, procura naturalmente outras paragens, onde possa encontrar melhores condições de realização profissional e pessoal, tanto a nível individual, como familiar. Foi isso que causou a emigração massiva nas décadas de sessenta e setenta, principal causa do decréscimo populacional, mas não a única. É essa mesma falta de condições no interior que impede a fixação de jovens e casais em idade ativa e procriadora. É tudo isso que urge corrigir agora, por meio de políticas e medidas estruturantes, estudadas e aplicadas a cada caso em concreto e não um conjunto de indistintas soluções transversais, sem atender às particularidades e necessidades específicas de cada localidade. A Freguesia de Montalvão, ficando situada na parte mais interior do interior do nordeste alentejano, dificilmente ficaria imune a esse dramático flagelo. Os malefícios da interioridade são, de facto, uma catástrofe que nos afeta persistentemente há cerca de setenta anos, pois já a partir dos anos quarenta e cinquenta se começou a verificar o decréscimo da população residente. A não serem aplicadas medidas estruturantes - estruturantes e emergentes sublinha-se -, a erosão demográfica cavará de ano para ano um fosso ainda maior na já precária dimensão da Freguesia. De tal modo, que, daqui a “escassos” 20 anos, a população das localidades que a compõem – Montalvão e Salavessa - será pouco mais que residual, em especial a desta última, que ficará reduzida a metade dos que nela residem atualmente. É o que o estudo designado em epígrafe procura evidenciar, como matéria de reflexão e não mais do que isso, ou seja, não é vinculativo de coisa nenhuma, embora se pretenda, a partir dele, chamar a atenção dos órgãos decisores para esta nossa gritante realidade e para a necessidade de aqui acorrerem com as soluções que se imponham, com a plena consciência de que não podem ser medidas simples nem de efeito rápido, porque se trata de questões complexas e morosas. Mas, enquanto mesmo aquelas não se tomarem, tarde ou nunca sentiremos os seus efeitos. Há que agir, portanto! Incumbe primordialmente aos decisores políticos tomar as medidas necessárias, mas também a sociedade civil não pode manter-se alheia ou afastada do processo, dado que é um problema que a todos atinge e, por conseguinte, a todos interessa ver resolvido. A Freguesia de Montalvão reúne potencialidades, que se forem valorizadas e integradas num plano estratégico de desenvolvimento da Freguesia, poderão contribuir decisivamente para suster, pelo menos, o processo de desertificação que a afeta desde há muitos anos. Vale a pena lutar por isso, e se o fizermos de forma unida e coesa, maiores probabilidades de sucesso teremos. E ao fazê-lo, não seremos caso único, nem sequer os primeiros. Luís Gonçalves Gomes 28 fevereiro 2018 |