Moinhos do Rio Sever
Da publicação referenciada em Bibliografia(1) respigamos as seguintes passagens:
…”portos que existem no rio Sever na extensão do território de Montalvão, a partir da confluência do rio de S. João, onde acabamos de o deixar e onde termina o território da Póvoa.
Porto do Bonsem, os do Moinho Branco, do moinho António Lopes, da Nogueira ou Branquinho, do Artur Novo, do Moinho do Mendes, Moinho de Pedro Valente, S. Brás, Figueira ou Maria Neta, Dourados, Malhomão, Artur Velho ou Alagador, Carneiro e Foz.”… (1)
Estes portos de outrora do rio Sever, confundem-se com os moinhos antigamente existentes, distinguindo-se uns dos outros em função de disporem de menor ou maior vau, ou seja, de nessas zonas do rio este se poder atravessar a pé ou apenas por meio de jangada ou barca, respetivamente. Todos eles tinham uma caraterística comum, que era o facto de as suas margens serem inóspitas, de difícil acesso, …”rudes e bravios”… para pessoas e animais, como ainda temos bem presente.
Apesar disso, os "moinhos do rio Sever", a par dos fornos existentes na vila, tiveram durante largos anos uma importância capital para a economia local e para a sobrevivência da população, ao lhes garantirem uma componente fundamental do seu sustento alimentício, a farinha de trigo e os seus derivados, o pão e outros.
Além disso, os moinhos de Montalvão desempenharam igualmente um indesmentível papel na socialização das populações vizinhas de Montalvão e Cedillo, sendo pontos de encontro e de confraternização para sucessivas gerações de montalvanenses e “cedilhanos”, já para não falar na solidariedade demonstrada pelos seus proprietários-moleiros ao acolherem e alimentarem tantos fugitivos da guerra civil de Espanha, correndo eles próprios sérios riscos, perante as autoridades portuguesas.
Por outro lado, as célebres e tão saudosas pescarias no rio, tendo como local de estadia, e quantas vezes de pernoita, os próprios moinhos, os "palheiros" dos animais de carga - em regra os burros - ou o lajeado circundante no dias e noites de maior brasido, eram esperadas e organizadas com a maior expetativa e não menor ansiedade pelos mais novos, daí resultando experiências de vida inesquecíveis.
O declínio destas unidades produtivas, maioritariamente disseminadas ao longo da margem esquerda do Sever, foi impulsionado pela chegada da eletricidade a Montalvão, nos finais da década de 1940, início da seguinte, e, consequentemente, com a instalação posterior de uma unidade moageira elétrica na vila, também ela desaparecida, anos mais tarde.
O golpe fatal - inexorável sinal do progresso -, foi dado pela construção da barragem hidroelétrica, junto à confluência do Tejo internacional com o seu afluente português, o nosso Sever, e a consequente submersão de todos os moinhos, mesmo os situados a maior distância, como foi o caso do Moinho Branco e da Nogueira.
Com a precciosa ajuda dos nossos conterrâneos João Alonso e Aurélio dos Remédios Morujo - eles próprios familiares de moleiros e com experiência no ofício -, aqui fica o preito do nosso reconhecimento e homenagem coletiva, através do registo dos nomes dos moinhos de outrora do rio Sever:
- Moinho Branco (2 unidades); Moinho do Lapão ou do Ica, de António Alonso; Moinho da Nogueira; Moinho do Artur; Moinho da Maria Neta, de Aurélio Leandro Morujo; Moinho do “Ti Manuel Pedro”.
Luís Gonçalves Gomes
16 fevereiro 2016
Bibliografia:
(1) VICENTE, António Pedro, “O Génio Francês em Portugal sob o Império, Aspectos da sua actividade na época da invasão e da ocupação deste país pelo exército de Junot, 1807-1808, Lisboa 1984” .
"Anexo n.º 3 - Descrição da parte do rio Sever, compreendida desde o porto dos cavaleiros até à confluência no Tejo na extensão dos territórios da Póvoas e de Montalvão-Território de Montalvão, p.3 a 5”