João Gordo do Rosário Correia (1)
Salvo as referências feitas na publicação abaixo mencionada, infelizmente não dispomos de informações a respeito deste poeta popular da Salavessa, impedindo-nos de fazer aqui uma breve apresentação sua. A todo o tempo que as mesmas cheguem ao nosso conhecimento, será corrigida esta lacuna involuntária. Dos poemas publicados (1) escolhemos o que passamos a transcrever :
O Tejo (1)
Oh antigo Tejo velhinho
Ninguém sabe da tua fundação
Tu segues sempre o teu caminho
Desde a mais remota geração
Se tu nos pudesses falar
Ouviríamos coisas de admiração
Quando veio o grande dilúvio
Que o mundo inteiro arrasou
Desabamentos de muitas nuvens
O mundo inteiro alagou
Já estarias a correr antes
Como agora a ver-te estou?
É muito provável que sim
Que já seguisses o teu caminho
Mas nunca te viras assim
Não seguias o teu destino
Foi um castigo ao mundo inteiro
Mandado por um poder divino
Talvez tivesses já vida
Quando o Noé na barca entrou
Paraste a tua corrida
Tiveste água perdida
Nelas ninguém navegou
Tantos moinhos tens movido
Com a tua água normal
Ouro nas cheias tens trazido
Para pobre e rico és igual
Todos em ti tomam banho
Para a cura de certo mal
Tantas barragens eléctricas
Em ti se estão a criar
São profecias dos profetas
E estas não podem falhar
São serviços fantásticos
Que podemos observar
Há quantos séculos ó Tejo
Que tu corres à vontade
Não correrás outros tantos
Com os açudes vedados
Outras gerações ande vir
Que possam contar a verdade
Já o Muge e a Enguia
Em ti não podem navegar
E vieram guarda-rios
Para a pesca e águas guardar
Não entramos nas tuas ilhas
Sem uma conta pagar
…
Luís Gonçalves Gomes
05 fevereiro 2016
(1) BENTO, Luís Mário Correia, “Salavessa, Um contributo para a sua história”; Ed. do Autor; pg 133 a 142; poema “O Tejo”, pg. 135.