O PORTUGUÊS POR ONDE PASSA DEIXA SEMPRE A SUA MARCA
O português, por onde passa, deixa sempre a sua marca e quase sempre pelos melhores feitos, com mais ou menos ruído (estranho até), sai sempre de “fininho” e bastas vezes é aclamado seja qual for a façanha.
Estava um Inverno rigoroso em Madrid, no ano de 1968 - parece o meu Alentejo, frio e calor sempre nos limites – quando uma selecção de fundistas é chamada para competir no “Cross Internacional da Juventude”, certame de várias provas que culminava com a prova de seniores masculinos, vindos de toda a Europa, onde pontuava a nata de especialistas ingleses, franceses, espanhóis, italianos, germânicos, finlandeses, entre outros. Para se baterem com estes craques, a Federação Portuguesa de Atletismo nomeou Carlos Lopes e Morujo Júlio do Sporting e Anacleto Pinto do Benfica. O cenário era mais virado ao esqui que propriamente ao atletismo, tal era o manto branco que cobria o percurso de dez quilómetros.
A estória bizarra, começou no autocarro que no campo servia de cabine para troca de equipamento após o aquecimento, obrigando-nos a calçar sapatos de bicos para progredirmos na lama. Ao entrar na viatura, o trio português é surpreendido com um traque vindo dos “bifes” – é sabido que os ingleses aceitam de bom grado este som ao contrário do arroto – e aí, tenham a santa paciência, um dos portugas afrouxa as “vinte e cinco pregas” e prega-lhes um valente “buzine” que ecoou dentro da Scania, de tal modo que levou todos os “passageiros” ao delírio com aplausos estridentes. Estava assim ganha a primeira “competição”, vamos à principal, esta sim era a sério.
Os primeiros cinco quilómetros foram de estudo mútuo, conhecidas que eram as feras, Carlos Lopes e Anacleto eram verdadeiros fundistas e eu mais meio-fundista – distâncias menores, logo mais rápido – contudo, a forma dos três estava quase no ponto e por isso capazes de nos batermos com afinco. Faltavam dois quilómetros para o final quando o professor Moniz Pereira, em lugar estratégico me gritou. “Zé, tens de passar esses três gajos”. Lá os fui “medindo” até aos derradeiros quinhentos metros e aí desferi o derradeiro ataque para acabar no sétimo lugar que deu a vitória a Portugal, pois o Lopes (3.º) e o Anacleto (5.º) já haviam cortado a meta e estavam à minha espera para me abraçar.
A correr ou a “buzinar”, como em qualquer competição, a presença portuguesa sobe sempre aos primeiros lugres do pódio.
Morujo Júlio
28-01-2021