QUANDO A TERCEIRA PERNA TOLHE OS MOVIMENTOS
Por muito que alguns queiram denegrira agremiação, o Sporting Clube de Portugal é, hoje por hoje, o maior Clube do Mundo, testemunhado pelo seu ecletismo. Por ali militaram e ainda perduram, mulheres e homens que elevaram ao cume do pódio o nome de Portugal.
O futebol, eivado de vícios é, no entanto, um mal necessário porque arrasta multidões, crentes e até ferozes adeptos, condição sine quanon para que o “negócio” frutifique, contudo, o seu fruto tende a apodrecer, quando a corrupção alastra, e o mata à nascença sem que os verdadeiros culpados sejam condenados.
Naquele tempo – até parece que me refiro ao paleolítico superior – ainda o tão arrepiante palavrão, a corrupção, está bem de ver, entrava tanto em jogo, dias havia que o velhinho Estádio José Alvalade parecia uma autêntica romaria, com o relvado, as pistas de atletismo e de ciclismo pejadas de atletas em animado convívio pujante de força e graciosidade.
É neste salutar ambiente que entra um promissor concorrente querendo trocar o ringue pela pista por se julgar dotado para pequenas distâncias, como são os “sprinters”. Andava ele no aquecimento, esmurrando o vento, para descer ao interior do estádio para dar porrada no saco (quem era o mestre, era Ferraz que ainda me elucidou na Marinha, aquando do Curso de Educação Física, o primeiro da Armada, como era a defesa e o ataque na disciplina “Nobre Arte”).
No colored rapagão até a cor lhe emprestava parecenças com o campeão olímpico dos 200 metros, o jamaicano UsainBolt, o tal que apontava ao céu como que agradecendo aos deuses mais uma vitória quase sempre ornamentada com novo recorde.
A leonina figura que até ali mantinha o sonho de dominar o duplo hectómetro, continuava com o necessário aquecimento para que o teste não lhe trouxesse dissabores com alguma lesão, já que a noite se aproximava e o vento frio não queria faltar. Era fisicamente dotado, corpo que nem o helénico Zeus – deus supremo do Olimpo– desdenharia.
Na Grécia antiga, isto 490 a.C., berço da civilização ocidental, os homens helénicos primavam por exibir os seus esbeltos e musculados corpos nus em jogos e danças. Não esquecer que ali se iniciaram os Jogos Olímpicos.
Ainda nestes tempos surgiu a lenda do soldado grego Fidípidesque na guerra contra os persas correu 42.195 metros da cidade de Maratona a Atenas para pedir reforços pelo caminho. Daí a prova olímpica com o mesmo nome. Voltou com mais de dez mil soldados que venceram a batalha. Contudo, um prepotente comandante – eles ainda andam por aí – ordenou ao esforçado soldado-atleta que voltasse a Atenas correndo (!) para dar a notícia da vitória. Extenuado, ainda assim, deu o recado, mas de pronto sucumbiu por não ter aguentado tal, esforço sobre humano. De certo modo sei avaliar o que custa fazer em competição semelhante, trinta quilómetros, fi-lo apenas uma vez – Campeonato Nacional de Fundo – fui segundo a seguir ao imorredoiro Armando Aldegalega que ainda corre por aí, lá se vai aguentando, cada vez mais pequeno por se ir “gastando”! A parte final, chegada ao Estádio Nacional, as pernas já não queriam as sopas e a cabeça martelava como se bigorna fosse. Valeu pela experiência.
José Morujo Júlio
06 setembro2020